terça-feira, 25 de maio de 2010

Os mestres-cucas do Colégio Estadual Candeia

Os mestres-cucas do Colégio Estadual Candeia



Lecedir Aguiar Barbosa,
diretora do C.E. Candeia

Os internos do Colégio Estadual Candeia, na Ilha do Governador, descobriram que o estudo é um direito do aluno. Mas o encanto pelo conhecimento surgiu em um simples pomar. Cerca de 150 estudantes participam, de alguma maneira, do projeto ambiental Bistrô Folhas Secas. Tudo o que é cultivado no pomar, como hortelã, capim-limão e cidreira, faz parte do cardápio. Inclusive as famosas compotas de doce de banana. Apesar do vasto espaço do colégio, com 14 salas de aula, a diretora Lecedir Aguiar Barbosa administra as aulas apenas em oito salas, pois as outras estão desativadas.

Segundo a coordenadora do projeto, Ana Lucia Rodrigues Saraiva, o trabalho é realizado dentro do tempo dos alunos, e os resultados são alcançados em longo prazo. “É como na música do Toquinho. Primeiro desenhamos um sol amarelo, depois com algumas retas temos um castelo. Aos poucos, construímos um belo desenho”, explica Ana Lucia. O sucesso do trabalho é a interdisciplinaridade.

“Quando cheguei ao Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), achava o conceito uma balela. Mas hoje vejo que, se não for assim, não funciona”, destaca Lecedir. E continua. “Trabalhar com adolescente é complicado porque eles são obrigados a frequentar as aulas. Ele diz que nunca estudou, e por que deveria estudar agora?”. O engajamento da equipe, de 35 professores, é outro fator importante. “Minha equipe é incrível. Tenho professores de Química que vão para a cozinha bater bolo quando é necessário. E o pessoal do pomar procura ganchos de Ciências durante as atividades”, diz Lecedir.

Novas formas de aprender

Nas aulas de Matemática, por exemplo, nada de chatices sobre pesos e medidas. O professor convoca todo mundo para calcular a própria massa corporal e verificar a altura. É assim que eles aprendem, aproximando os conteúdos da realidade. Ainda assim, as aulas preferidas são as de Educação Física, do projeto Recreação em Ação. “Se o professor faltar, é um caos”, brinca a diretora. O xadrez é um dos jogos preferidos da galera e, segundo a coordenadora, melhora a autoestima deles.

Um diferencial do C.E. Candeia é o funcionamento em horário integral. Os alunos ocupam o andar de cima da instituição. Se antigamente o interno não queria descer para as aulas, hoje, quando a diretora caminha pelos corredores, eles se balançam nas grades pedindo para descer. “Isso mostra que o jovem gosta de ser cobrado. Ele aprende a gostar da escola”, avalia a diretora.

O bistrô

Além de culinária, o Bistrô Folhas Secas ensina conceitos de higiene. “Os professores aproveitam a oportunidade para explicar que eles devem usar luvas, toucas e cortar as unhas para cozinhar”, lembra a coordenadora. Em um espaço onde a rotatividade de alunos é alta, os trabalhos precisam de um excelente planejamento para darem certo. A equipe também não se descuida um instante e recorre à criatividade para burlar as barreiras da instituição. Imagine trabalhar em um bistrô em que não podem ser usados objetos cortantes, como facas, ou fazer aulas de artesanato sem tesouras?

Família

Pensando em ajudar os alunos nessa fase de reintegração, o colégio desenvolve projetos para toda a família. Um deles foi a comemoração do Dia das mães. “Foram três dias de atividades. Elas comeram bolo, assistiram a palestras, participaram de debates. Isso representou muita coisa, porque não é fácil aquela mãe visitar o filho três vezes na semana. O custo é alto para ela”, destaca a coordenadora Ana Lucia Rodrigues.

Na ocasião, os internos aproveitaram as aulas de artesanato. Eles presentearam as mães com bolsas confeccionadas durante as aulas e chocolates do bistrô. Além das aulas da programação da escola, as oficinas de percussão, grafite e teatro do AfroReggae fazem parte do dia a dia dos internos. “O nosso lema é humanizar a escola. Tenho alunos que voltam dez vezes em um ano. Mas para mim, se ele estiver mais humano, já considero uma vitória”, explica, emocionada, Lecedir Barbosa.

Retirado do "Conexão Aluno" em:

www.conexaoaluno.rj.gov.br/especial.asp?EditeCodigoDaPagina=3111




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