sexta-feira, 15 de junho de 2012

PROJETO MAIS LEITURA

Projeto facilita acesso ao mundo da literatura

Dia desses, Dona Neusa esteve na unidade do Rio Poupa Tempo em São Gonçalo, mas não para resolver burocracias. Neusa buscava histórias. Como gostava muito de ler na infância, ela tentava incutir o mesmo prazer ao neto, mas esbarrava num problema: toda noite era a mesma história, porque na casa de Dona Neusa havia apenas um livro. A solução veio em setembro do ano passado com o projeto Mais Leitura, tocado pela Imprensa Oficial, que vende livros novos a R$ 2 ou R$ 3.
O caso, contado pelo presidente da Imprensa Oficial, Haroldo Zager, é só uma das muitas histórias que circulam nas três agências do projeto (as outras ficam em Bangu e São João de Meriti, na Baixada Fluminense). Por lá marcam presença desde universitários, alunos e professores até donas de casa que descobrem na leitura um novo prazer. Na unidade de Bangu, por exemplo, a funcionária Letícia Dias coleciona um punhado de causos semelhantes.
“Tem pessoas que vêm tanto aqui que viram amigas. Uma senhora, por exemplo, disse que está arrumando um cantinho em casa para fazer sua biblioteca. Ela adora a estante de romances, e eu procuro arrumar em ordem para estimular o cliente a ler a série completa”, conta Letícia.
E os clientes, pelo visto, têm correspondido. Em oito meses de projeto já foram vendidos quase 200 mil livros – média de mais de 800 exemplares por dia. A meta é chegar a meio milhão neste ano. A expectativa é ainda maior com a “estante itinerante”: a Imprensa Oficial vai disponibilizar até agosto um ônibus para visitar todos os municípios do Estado. Os livros serão vendidos em praças e demais locais públicos.
“O sucesso se deve, basicamente, ao boca-a-boca. Quando conto para as editoras, elas ficam estarrecidas. Em nenhum lugar é normal vender 30 mil livros num mês. Sempre acreditei ser falsa a ideia de que o brasileiro não gosta de ler, e este projeto é prova irrefutável disso”, conta.
Claro que, sem o apoio das editoras, o projeto seria inviável. E mais de 40 empresas ajudam a abastecer a Imprensa Oficial com títulos recém-lançados, que vão desde grandes clássicos da literatura até romances policiais, literatura estrangeira, economia, história, biografias e autoajuda. Obras que poderiam custar R$ 40 ou R$ 60 e, no Mais Leitura, são encontradas por, no máximo, R$ 3. A ação tem como objetivo estimular a adesão de novos leitores, o que acaba beneficiando indiretamente o mercado editorial.
Como não se trata de competir com as livrarias, não há um ranking das obras mais vendidas. Mas os livros infanto-juvenis são, disparados, os mais adquiridos – o que comprova que o objetivo principal do projeto, de fomentar novos leitores, vem sendo alcançado. Prova disso foi o militar Cleiton da Silva Medeiros, que teve de ir ao Rio Poupa Tempo de Bangu tirar uma nova carteira de identidade. Ele nunca tinha ouvido falar do Mais Leitura, mas aproveitou para conferir – e levar dois exemplares.
“Tenho um filho de seis meses, e me interessei por um livro que ensina como estimular o hábito da leitura nas crianças desde cedo. Mostra como ela vai aprendendo, entendendo as coisas, e vou tentar fazer isso com meu filho”, contou.
Gerente da agência de Bangu desde a inauguração, há quatro meses, Cristiana Andrade conta que já chegou a vender 600 livros num dia. Para evitar que se compre várias obras de uma só vez – o que iria restringir a aquisição por mais pessoas –, cada cliente pode comprar até dois exemplares por dia. Mas é possível fazer uma carteirinha que dá direito a um livro de graça a cada 10 adquiridos.
“Tem gente que nem acredita, pergunta se é aluguel, se tem de devolver. E também tem muitos universitários que passam aqui. Alguns professores, inclusive, chegaram a dar pontos para alunos que compram um livro e fazem a carteirinha”, conta Cristiana.
A assistente jurídica Márcia Guedes, 43 anos, é um exemplo de universitária que conta com o apoio do projeto. Estudante de direito, ela vai semanalmente à agência conferir as últimas novidades na sua área. Outro dia ela esteve lá procurando por um livro de português jurídico, mas foi informada que só chegaria na semana seguinte. Não perdeu a viagem, e acabou comprando um romance.
“É uma ótima distração. Ler faz bem pois estamos sempre nos inteirando, melhorando a escrita e aprendendo mais”, defendeu.

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